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Construindo um bom relacionamento

(Versão brasileira)

Eu sei, eu sei: ninguém quer um desastre no relacionamento. Todo mundo procura alguém que o ame, o proteja, o acaricie, seja bem-humorado, acolhedor, protetor. E é aí que começa o desastre: tal pessoa não existe. Não para quem procura tal pessoa. Os relacionamentos que estão mais estáveis, não apareceram assim na frente, como por encanto – eles foram sendo construídos, geralmente à custa de muita mudança interior, muita auto-reflexão, muita sabedoria para parar de exigir a perfeição do outro e aceitar as próprias fraquezas. Sim, fraquezas que todo ser humano possui. Porque se é humano, possui fraquezas. E defeitos.


Não estou querendo tirar sarro de quem teve ou tem problemas de relacionamento. No fundo, o que escrevo é uma auto-análise de quem também sempre procurou alguém perfeito para se sentar ao meu lado. Exatamente como escrevi acima. E como não encontrava, porque isso não existe, todo mundo que parava ao meu lado era alvo das minhas opiniões, meus argumentos, minhas críticas, que buscavam mudá-la para a perfeição que eu tinha na minha própria cabeça. Ah, sim, é claro: inconsciente ou conscientemente, eu estava buscando a perfeição que eu julgava conhecer. Algo arrogantemente dentro de mim dizia que eu sabia o que era perfeição. E que o outro não sabia. Logo, tinha que entender o que eu queria dizer.

Talvez ao seu lado exista alguém assim: que olha para tudo e sabe qual é o problema. Entende como mudar o comportamento das pessoas. Analisa o sujeito ao lado e vê como ele está conduzindo erradamente a vida dele. E o pior: não está percebendo! Talvez você seja assim. Você está vendo como ele está errado, e ele tem que ouvir você! Afinal, você sabe o que é melhor pra ele!

É, mas felizmente não é possível saber o que é melhor para o outro. Eu nunca soube nem o que era o melhor para mim, até porque, ao ficar importunando a vida dos outros com minhas opiniões e sugestões, não podia olhar para mim mesmo e minhas necessidades.



O que um ser humano necessita

Um ser humano necessita se reconhecer, antes de querer reconhecer e mudar o outro. Temos dentro de nós, todos nós, um lado infantil, um lado criança, que carrega em si muitas emoções e impulsos. Estas emoções determinam muito a forma que reagiremos nas nossas relações. Se olharmos para dentro de nós e reconhecemos uma criança magoada, automaticamente iremos querer que quem está ao nosso lado supra esta mágoa. Porém, com certeza, ao nosso lado também haverá outra criança magoada, já que atraímos os semelhantes. Engraçado é que geralmente esta criança magoada fala como se fosse um adulto, com os seus conceitos de certo e errado, e determina o que o outro deveria ser ou fazer. Vamos imaginar uma criança, dando conselhos para nós, adultos. Como é isso? Funciona? A criança tem a noção do que está por detrás dos nossos problemas?

O lado bom da nossa criança é que também ela possui alegria, desprendimento, liberdade, criatividade. Todos nós possuímos os dois lados. Quando não permitimos manifestar a criança alegre e espontânea, ao mesmo tempo que aceitamos e acolhemos as feridas da criança magoada, não conseguimos reagir de forma adulta com quem desejamos estabelecer um relacionamento adulto. Obviamente, vira um relacionamento infantil, como esses que existem na escola, baseado em cobranças, aparências exteriores, atitudes infantis e irresponsáveis.

Ninguém pode acolher a nossa criança magoada, a não ser nós mesmos. Dizer que a mágoa é culpa do pai, da mãe, do abandono, da violência, do abuso sexual, de nada adiantará para que consigamos nos equilibrar emocionalmente, e assumir uma atitude adulta. Dar culpas aos nossos problemas não resolve a situação. Deve chegar o momento em que, corajosamente, acolhemos todas as dores, mágoas, rancores, ódio, raiva, desprezo, abraçamos esses sentimentos, sem negá-los, e dizemos a nós mesmos: foi assim...
E a partir disso, deveremos assumir um contrato conosco mesmos, de viver o melhor possível, e mudar somente aquilo que podemos mudar, que geralmente é nós mesmos. Viver observando a própria criança interior, para que as emoções reprimidas não tomem controle da própria vida. A partir disso, conseguimos estabelecer relacionamentos mais maduros e construtivos. Uma pessoa atenta às próprias emoções, que se aceita como é, com suas raivas e temores, vícios e virtudes, e que sabe dosá-los no dia-a-dia, encontrará outra pessoa semelhante.



Relacionamento perfeito

Um relacionamento perfeito não existe, assim como pessoas perfeitas não existem. A capacidade de observarmos as próprias dores e emoções e mantê-las sob controle é cíclica, varia, tem altos e baixos. Por isso, as relações possuem altos e baixos. Um relacionamento eterno nunca existirá... Mesmo aquele casal que vive até o final da vida juntos, chegará o momento em que um deles morrerá primeiro, deixando ao outro a possibilidade de encontrar um novo relacionamento. Observando a natureza, vemos que tudo é cíclico. Existe vida e morte. União e separação. A idéia de um relacionamento interminável é bem infantil e presa ao sentimento de apego, que é contrário ao amor. Amor é liberdade, e a primeira demonstração de amor que podemos ter é conosco mesmo, nos libertando dos sentimentos e emoções reprimidas da nossa criança interior, permitindo assim uma vida mais leve e divertida.

Trabalho com isso diariamente. Tive uma infância onde não demonstrei a espontaneidade de criança, senti-me muito reprimido e vigiado. Carrego um peso de ser culpado de algo que nem sei o que é, e a culpa funciona como aquelas enormes bolas de ferro que se prendiam aos pés dos prisioneiros. Porém, descobri que essas bolas são imaginárias. Descobri que minha criança pode e deve se divertir agora, para que as mágoas do passado se dissolvam na brincadeira. Deixei de culpar meus pais, tutores, parceiros, governo e seja lá mais quem for pelos meus problemas. Somente assim consigo tomar posse do meu adulto, e criar meus planos e metas para um futuro equilibrado e realizador. Antes, todos os meus planos eram criados pela minha criança magoada, e isso não era nada confortável. Uma criança magoada bate o pé e diz: eu quero isso, eu quero aquilo! E quando recebe, não dá nenhum valor e já parte para outro querer, porque ela está magoada... Talvez seja por isso que a Lei da Atração não funcione para tantos. Não é o adulto consciente do seu poder e alegria que pede ao universo... Mas como tudo na vida, é possível reverter o estado de espírito imaturo, com um única decisão: a decisão de assumir a própria mudança, aceitando-se plenamente como é, e abrindo-se para novas experiências.

O passado se foi, e as feridas se cicatrizam quando são deixadas descansar.


por Alex Possato - alex@nokomando.com.br
Consultor especializado em programação neurolingüística


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