A necessidade inata de partilhar
O ser humano não é uma ilha. Embora passe por diferentes fases e etapas, geralmente busca alguém que possua as características que necessita para o seu equilíbrio.
A pergunta que na maior parte das vezes não é feita de forma consciente é : “ O que é que aquela pessoa tem que eu quero?” ou “ O que quero ir buscar àquela pessoa ?”.
Para além da atracção física ou de algum aspecto da personalidade, existem sempre características subliminares que nos fazem ir de encontro a alguém, como por exemplo a independência que alguém demonstra, a alegria, a inocência, a irreverência, a atenção e carinho, o “problema” que alguém demonstra ser ou ter, enfim...basicamente o que define a sua estrutura energética. Existem outras características, ao nível mais consciente, como a beleza, os traços mais evidentes da personalidade, a atracção física, o poder e estatuto, dinheiro ou até a família da pessoa focada. A partilha é uma bênção, não deverá ser um fardo.
Défice versus Plenitude
Sem se aperceberem, a maior parte das pessoas juntam-se pelo défice, não pela plenitude. Na realidade, tal quer dizer que quase sempre inconscientemente tenta-se buscar no outro aquilo que por qualquer motivo ainda não se tem ou que se perdeu algures pelo caminho. Em vez de se partir cheio, pleno para assim se poder doar, partilhar, o ser humano tende a avançar para uma relação com a expectativa de preencher o vazio que nele mora. Se por um lado estar com alguém pode ser uma variável catalisadora e motivante para avançar interiormente, por outro lado cai-se no erro de tomar a parte pelo todo, ou seja, alguém que deveria ser um complemento, o culminar do consolidar consciêncial e energético torna-se numa falsa “tábua de salvação”, numa “bengala emocional”, num “tapa buracos”. A questão é que o buraco que se tenta tapar é muitas vezes grande demais e só através do interior de cada um, dum percurso reflectivo e introspectivo, poderá ser removido e superado. Tal implica mudanças de hábitos e rotinas, alterações de padrões mentais e duma postura totalmente diferente perante nós próprios e perante a vida. Esse buraco tem quase sempre raízes na infância de cada um, onde a educação construiu o “modo operandis” mental e psicológico do adulto que se apresenta hoje ao mundo.
Há medida que o tempo vai passando, o buraco vai ganhando outra dimensão através dos traumas afectivos, e não só, e dos hábitos menos bons que se vai coleccionando, tal como relações puramente carnais, fuga do compromisso, rejeições de parte a parte, entre muitas outras condicionantes. O cerne da questão não é alguma destas situações acontecer, mas sim a sua repetição “tipo padrão” ao longo do tempo, sendo que a única variável que se altera é a face da pessoa em causa. Até ao que não é bom para si, o ser humano se habitua.
Relacionar ou complicar ?
De facto, o que acontece muito nos dias que correm é um jogo de poder, em termos energéticos. Tudo no Universo é energia. Uma relação afectiva é igualmente um processo energético. A primeira lacuna de que me apercebo é a falta de diálogo e tolerância entre os casais. Fala-se pouco, exige-se demasiado. Estando vazio, em vez de doar a minha mais valia, tento “sugar” energeticamente o outro. O outro, provavelmente estará como eu. Adivinham o resultado desta situação ? Muitos seres humanos ainda não compreenderam que realmente, ninguém é de ninguém e cada um está na vida do outro até ao momento que tem de estar.
Esta sim, é uma enorme verdade que tantas vezes doi admitir. Aqui, o apego tem um papel preponderante, senão vejamos : todos os mestres apelavam ao desapego. Não o desapego que nos remete para a miséria ou para a alienação, mas sim o desapego saudável que nos permite sentir bem connosco próprios e com o mundo, independentemente de quem saia ou entre na nossa vida. Evidentemente, há laços afectivos e energéticos que vão sendo criados de forma natural entre duas pessoas que se relacionam, no entanto, se a base estiver consolidada, no momento do “adeus” em vez do drama, dar-se-á lugar a um “luto” saudável, a uma lufada de ar fresco, a uma nova oportunidade.
O que busca numa relação ? Esta é uma pergunta importante. Muitos entram para uma relação, com a mesma postura que têm perante a vida, ou seja, sem perceberem o seu papel, sem definirem objectivos e o que pretendem aprender, viver e sentir. Não se apela aqui a uma excessiva intelectualização ou stress emocional, muito pelo contrário, remete-se para a responsabilização, consciência e atenção. Quem vive sem atenção, coloca a sua energia, o seu poder pessoal em mãos alheias, não assumindo o comando da sua existência e dos seus processos interiores.
Apesar do desafio que é lidarmos com alguém e que, concerteza, tem os seus momentos menos fáceis, uma relação pretende-se descomplicada, simples e portadora de bem estar.
Lembre-se sempre desta preciosa máxima : A qualidade duma relação mede-se pelo bem estar que nos proporciona.
Quando chega o adeus
Há duas possibilidades : Alimentar a vitima ou alimentar o processo de renovação. Como já foi referido, há laços que se criam e não podem ser ignorados. Na fase inicial da relação parece que se toma um elixir à “prova de terramotos”, normalmente a pessoa sente-se forte, completa, una com tudo e com todos. Com o final da relação, a falsa capa é despida e tudo vem ao de cima de forma ainda mais violente e impiedosa. Uma das lacunas mais frequentes acontece quando “os fantasmas do passado” ainda não estão enterrados. Procura-se alguém que milagrosamente seja uma panaceia para algo ou alguém que ainda não se conseguiu superar, olhar de frente, “digerir”. Acredito que nada acontece por acaso e que pessoas que se cruzam na vida de cada um, têm um papel recíproco a desempenhar, independentemente do tempo que lá permanecem. Quem tem toda a sua energia direccionada para o outro ignorando o resto do mundo, tem muito mais propensão a cair no vazio e no desespero. Amigos, família e ocupações que preencham a pessoa, são vitais para que o Universo de alguém não desabe subitamente.
Por mais pancadinhas nas costas que se dê, não há antídotos para passar. Assumir com coragem a dor, o luto e a perca (de alguém que na verdade nunca nos pertenceu), é mesmo a forma mais rápida e eficiente de superar e voltar a sorrir. Fingir que nada aconteceu, cultivando processos de revolta, ódio e mágoa, é um desgaste energético demasiado penoso para abraçar. Chorar, rir às gargalhadas, dar murros nas paredes e dizer todo o tipo de barbaridades pode ser, numa primeira fase, uma catarse de vital importância, após a qual um respirar profundo e uma “rendição”, se apresentará como o inicio de um novo amanhã.
Fonte:
http://www.harmoniza.com/pt/a-necessidade-de-partilhar.html
(Este é um artigo dividido em duas partes (sendo esta a 1ª), que pretende uma abordagem geral do processo relacional. Nesta 1ª parte aborda-se o contexto geral dos pressupostos relacionais.
No próximo mês publicaremos a 2ª parte do artigo, onde abordaremos dicas úteis e preciosas que abrangem vários cenários dentro das relações afectivas)
In Zen Energy, por Rodrigo Belard
A necessidade inata de partilhar – Parte II
Na primeira parte deste artigo abordei alguns aspectos que considero vitais para um processo relacional saudável, pautado por um crescimento a dois.
De facto, nos tempos que correm em que a principal crise é a de valores, é urgente redefinir prioridades e assumir o poder pessoal que mora no interior de cada um.
Partilhar o que não se tem é, normalmente, complicado.
Como conselhos não se dão, deixo aqui algumas referências gerais que têm, concerteza, relevância se pretende que a sua vida afectiva seja, no mínimo, uma partilha saudável com base no crescimento mútuo.
Dividirei estas reflexões em três fases:
” O Inicio” - para quem aspira a “estar com”
“Na Acção” - para quem “está com”
“No Final” - para quando chega o momento da partida.
O INICIO - Apaixonou-se ?
Analise que tipo de sentimento é esse a que chegou. Tem como base e consequência as suas feridas não curadas, ou é algo genuíno? Está na moda falar em Amor, mas poucos o sentem. Não brinque consigo nem com o próximo. As pessoas sofrem, sabe?
Entrar no jogo do gato e do rato pode até ser engraçado e, até certo ponto, faz parte do processo. No entanto, algures num momento não muito distante, opte sempre por ser quem é. Goste sempre mais de si. Sem auto estima e amor-próprio, será um avião de emoções em queda livre. Além disso, ninguém gosta da companhia de mártires.
Agrade, sem abdicar de si e de quem é. Não necessita de se anular. Se gostarem mesmo de si, será pelo que é, não pelo seu emprego, condição social, presentes que dá, roupa que traz vestida ou pelas birrinhas que alimenta.
Se não está bem consigo próprio, se a sua própria companhia o incomoda, a bengala emocional ou tábua de salvação que encontrou em breve estalará. Será só uma questão de tempo. Semelhante atrai semelhante.
O que pretende da vida? O que pretende de si? O que pretende dessa possível relação?
Se por um lado é sensato aguardar pelo feedback da outra parte, por outro lado, use a espontaneidade e surpreenda. Os grandes feitos e conquistas foram quase sempre executados por quem ousou ir mais além.
O seu mundo desaba com a possibilidade de um “não”? Se sim…não é bom sinal.
Se não sabe bem o que quer, saber o que NÃO quer, é já um bom começo.
A seu tempo, conheça a família da outra parte. Existindo excepções, costuma ser um excelente indicador.
NA ACÇÃO – Durante o relacionamento
Tal como referi na 1ª parte do artigo...a qualidade duma relação mede-se pela paz que esta proporciona a ambos.
Por vezes um NÃO ao outro é um SIM a si e/ou à relação. Não alimente processos doentios ou birrinhas demagógicas. Pense também em si, antes de se “afundar” ou “dissolver” em alguém. Partilha sim. Exclusão, humilhação e sufoco...não, obrigado.
Apesar de poder limar algumas arestas e fazer algumas cedências, lembre-se que por mais que “goste” de alguém, deverá sempre gostar mais de si. Caso contrário, ficará sem chão rapidamente ou entrará num trapézio sem rede.
Sente-se atraído ocasionalmente por outra pessoa? Não se culpe por isso. O outro lado passa pelo mesmo, embora não o admita. É um processo natural e biológico.
Habituou-se a certos comportamentos que até já acha “normais”? Cuidado...até ao que não é bom o ser humano se habitua.
Quem está mal, muda-se. O problema não tem de estar em si. Poderão não estar na mesma ressonância, na mesma onda. Acha que vale a pena apostar ainda mais?
Talvez...não espere é pela consulta ao psiquiatra. Onde o diálogo não existe, existe apenas o vazio.
Reflicta, sem queimar os neurónios, sobre o que a/o mantém nesta relação. Resolveu interiormente as lágrimas que lhe foram provocadas e que também provocou?
A sua relação corre às mil maravilhas? Ainda bem. Lembre-se é de estar sempre disponível para a mudança, para o mistério e para o risco. A única garantia é que não há garantias de nada neste Universo. O apego será um dos seus maiores obstáculos. Se estiver bem consigo, os terramotos abanarão a casa, mas não a destruirão.
Encontre um meio termo saudável. Goste do seu umbigo, mas embale também a alma de quem partilha a sua vida.
NO FINAL – E agora?
Um NÃO é um NÃO. Tenha a coragem de o dizer e de o ouvir. Sinta o que motiva realmente uma ou ambas as partes a caminhar noutra direcção.
Há momentos para se entregar, para lutar e para deixar ir. Seja realista e opte por um.
Não caia no erro de fingir que nada está a acontecer. Ninguém é de ninguém, logo, como pode perder alguém que nunca possuiu? Assuma a sua decisão e/ou os factos, e exteriorize o que sente. Chore, grite, ria, bata na parede e parta pratos. Opte por viver o seu luto durante 2 meses. É sempre melhor do que cambalear durante 2 anos.
Nem tudo depende de si. Deixe a vida fluir. No Universo não existem coincidências. Por mais e melhor que tenha feito...há buracos que não podem nem devem ser tapados e/ou ignorados.
Tem 2 opções, esteja do lado em que estiver da fronteira: ou sente e encara a situação como um drama, um cataclisma nuclear irreversível, ou abraça a oportunidade de mudança, mesmo que inicialmente dolorosa.
Rodeie-se de amizades genuínas e que possam servir de suporte para o momento que está a passar. O isolamento não é fácil de digerir e vai sentir o seu peso.
O medo perde a força assim que o decide olhar nos olhos. Seja ele qual for, olhe-o bem de frente e com a cabeça bem erguida!
In Zen Energy, por Rodrigo Belard
http://www.harmoniza.com/pt/a-necessidade-parte-ii.html
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